Trabalho remunerado e trabalho doméstico: uma tensão permanente


Pesquisa feita pelo Data Popular em parceria com o SOS Corpo – Instituto Feminista pela Democracia comprova que a maior participação das mulheres no trabalho remunerado não foi acompanhada de mudanças na divisão sexual do trabalho doméstico, nem na oferta de políticas públicas.
Foram entrevistadas 800 mulheres de nove capitais brasileiras, além de Brasília, com idade entre 18 e 64 anos e que possuíam algum tipo de trabalho remunerado. A pesquisa foi realizada entre os dias 29 de junho de 2012 e 7 de julho de 2012.

As entrevistadas apontam a existência de uma tensão entre ter um trabalho remunerado, que dá autonomia, e ter que se afastar das responsabilidades com o trabalho doméstico e o cuidado com os filhos. Sobre a concordância com a frase: “Se eu pudesse, eu pararia de trabalhar para cuidar da casa”, observa-se que, quanto menor a renda, maior a vontade de parar de trabalhar: 59% expressam esse desejo na classe D; 37% na classe C; e 32% na classe AB.

Leia mais sobre a pesquisa no site +Direitos +Poder para as mulheres brasileiras.

Trabalho produtivo x trabalho reprodutivo

Os termos trabalho produtivo e trabalho reprodutivo podem gerar alguma inquietação e dúvidas entre quem está, de alguma forma, acompanhando a campanha "Trabalho de mulher tem valor. Dentro e fora de casa."

O trabalho produtivo é todo aquele que resulta na produção de bens ou serviços com valor econômica no mercado. Ele diz respeito essencialmente ao trabalho realizado na esfera pública e profissional. Seja como empregada, seja como empregadora, seja como produtora, a mulher ocupa cada vez mais o espaço do trabalho produtivo na sociedade. 

Já o trabalho reprodutivo é aquele desempenhado na intimidade do lar: os cuidados com a limpeza da casa, com a alimentação da família, com a criação dos filhos, com a manutenção em geral do ambiente familiar. De acordo com as Nações Unidas, é a base de todo trabalho que tem um valor econômico, embora não seja pago, nem seja social ou politicamente valorizado e, quase sempre relegado exclusivamente às mulheres da casa, sejam as esposas, sejam as filhas.

91% das mulheres economicamente ativas também trabalham em casa

Dados da Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (PNAD) confirmam: enquanto 91% das mulheres que são economicamente ativas também fazem tarefas domésticas, apenas 51% dos homens vive a mesma situação, apesar de ambos terem dupla jornada de trabalho. Além disso, o que também torna esta divisão injusta é a quantidade de horas dedicas ao trabalho doméstico: uma média de 20,8 horas semanais para mulheres contra 9,1 horas para os homens.

Uma análise destes dados feita pelas professoras Hildete Pereira de Melo e Marta Castilho, da Faculdade de Economia da Universidade Federal Fluminense, concluiu o seguinte sobre esta situação:


"Uma característica importante do trabalho reprodutivo é que ele é tão mais importante 
quanto menor for o grau de instrução dos trabalhadores, embora a volume médio de horas 
dedicado a afazeres mesmo para as mulheres mais escolarizadas seja mais do que o dobro de 
horas dos homens com o mesmo grau de instrução (ver Tabela 5). Esta diferença é maior no 
caso das mulheres do que dos homens. Uma mulher sem instrução dedica em média 54% a 
mais de tempo a afazeres do que os homens, enquanto a mesma comparação no caso 
masculino denota uma diferença de 37%. Por conseqüência, o diferencial de horas médias 
dedicadas a afazeres entre mulheres e homens cai à medida que aumenta o grau de instrução 
de ambos."

Para as professoras, "as mulheres trabalham e muito, cada vez mais envolvidas no trabalho 
produtor de mercadorias e aparentemente insubstituíveis no trabalho reprodutivo", uma situação que, segundo elas, precisa mudar.

Leia o estudo completo clicando aqui.

Mulheres ainda são vistas como as únicas responsáveis pelo trabalho doméstico

Artigo da jornalista Tuka Pereira para o portal Vírgula

Estamos em 2013, as mulheres são líderes mundiais, pilotam aviões, dirigem multinacionais e sustentam famílias... Enquanto na vida real a mulher não fica mais em casa esperando o marido pagar as contas, no mundo da publicidade o sexo feminino ainda é tratado como se vivêssemos nos anos 50.

Propagandas de produtos de limpeza retratam uma mulher que limpa a casa sozinha, numa época em que a divisão de tarefas entre os gêneros já não é uma utopia. Então por que os comerciais de detergentes, desinfetantes e sabões em pó parecem ignorar a atual constituição familiar, na qual o homem também é responsável por tarefas da casa?
Segundo a mestre em direito político e econômico e especialista em feminismo Paula Loureiro (autora do livro "Alexandra Kollontai: feminismo e socialismo - uma abordagem crítica do direito"), a publicidade, fruto de uma sociedade machista e patriarcal, apenas reforça um padrão comportamental ao qual a própria mulher se submete:
“Vivemos numa sociedade machista e patriarcal. O que a televisão faz, com suas propagandas, é apenas reforçar o padrão comportamental a que, nós mulheres, nos submetemos. Não podemos esquecer que nossa sociedade está estruturada desse jeito, com a mulher oprimida”, explica. 

Leia tudo clicando aqui.

Metade das mulheres produtoras do Cariri paraibano tem renda mensal de até R$ 100


Uma pesquisa realizada pelo projeto “Mulheres Rurais: Autonomia e Empoderamento no Cariri Paraibano” revela que 48,6% das mulheres produtoras da região têm renda mensal de no máximo R$ 100. Os principais desafios enfrentados por essas mulheres são a falta de água, de matéria prima e de recursos para investir na produção e 22% delas ainda depende de atravessadores para escoar seus produtos. Mais de 46% delas vive da agricultura e da criação de animais, mas uma em cada três mantém a tradição da renda renascença. O machismo e a falta de incentivo ainda são apontados como as maiores dificuldades para essas mulheres ampliarem seu trabalho produtivo, além da falta de reconhecimento do trabalho doméstico, que acumulam com a produção.

A pesquisa foi coordenada pela pesquisadora Gloria Rabay a convite da Concern Universal e Cunhã Coletivo Feminista, entidades realizadoras do projeto, e será a motivação do Seminário Mulheres, Trabalho e Autonomia no Cariri Paraibano, que acontece nesta quarta, dia 20, no auditório da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) em Monteiro. O levantamento dos dados foi realizado no segundo semestre de 2012 e envolveu não apenas mulheres produtoras, mas também gestores e autoridades da região. O Seminário se inicia às 9h e também contará com o lançamento da campanha “Trabalho de mulher tem valor. Dentro e fora de casa”, que quer contribuir para a valorização da dupla jornada de trabalho das mulheres como um caminho possível para sua autonomia e para o desenvolvimento local.

Repercussão - A realização do Seminário repercutiu na mídia local, com diversas publicações. Veja algumas delas:

Autonomia e Empoderamento

A Cunhã Coletivo Feminista foi fundada em 1990, em João Pessoa, no estado da Paraíba, região Nordeste do Brasil. Tem como missão promover a igualdade de gênero, tendo como referências os direitos humanos, o feminismo, a justiça social e a democracia. Contribui para o fortalecimento do ideário feminista e da organização das mulheres na Paraíba e no Nordeste do Brasil, em articulação e parceria com organizações locais, regionais, nacionais e internacionais.
A Associação Concern Universal Brasil é uma instituição privada, sem fins lucrativos, de apoio e promoção social, voltada para a consolidação dos princípios da justiça social, da solidariedade e dos direitos humanos. Está ligada à Concern Universal, com base na Inglaterra.
As duas organizações desenvolvem em parceria o projeto Mulheres Rurais: autonomia e empoderamento no Cariri Paraibano, que tem como objetivo geral contribuir para o enfrentamento à pobreza e a melhoria das condições de vida das mulheres rurais do Cariri Paraibano, com duração de três anos (2012-2014).
As ações estão sendo realizadas em oito municípios da região do no Cariri Ocidental Cariri paraibano (Camalaú, Congo, Monteiro, Prata, Sumé, São João do Tigre, São Sebastião do Umbuzeiro, e Soledade), onde a Cunhã possui um escritório sediado em Monteiro, e é cofinanciado pela União Europeia. 

Trabalho Produtivo e Trabalho Reprodutivo


Em todo o mundo, mulheres e homens vivem condições desiguais em relação ao trabalho. Isto varia de acordo com as relações de gênero, classe e raça, de forma geral. Além destas, outras questões podem reforçar/influenciar nestas desigualdades, como a cultura, as origens regionais (meio urbano ou rural, países mais ricos ou mais pobres, do Sul ou do Norte), ou a forma de cada um ou cada uma viver sua sexualidade.

Porém, no mundo do trabalho, uma questão central que colabora para as desigualdades entre homens e mulheres é a divisão sexual do trabalho, o trabalho produtivo e o reprodutivo. Através da história, a divisão sexual do trabalho significou que as mulheres ficassem encarregadas do trabalho reprodutivo: doméstico, ligado à manutenção da casa e da família, invisível e não remunerado. Aos homens coube trabalho produtivo, remunerado, e associado à esfera pública, fora de casa, reservada ao chefe da família.

Quando se trata do “mundo rural”, esta divisão manifesta-se de forma perversa para as mulheres, porque muitos dos afazeres domésticos estavam e ainda estão relacionados à “ajudar na roça”, cuidar das cabras e galinhas, por exemplo. Para os homens, este trabalho tem um valor, mas, para as mulheres, acabou se tornando uma extensão do trabalho reprodutivo, já pesado e invisível, onde as mulheres são sobrecarregadas, com a tripla jornada de trabalho.

Desenvolvimento com justiça socioambiental


Um em cada quatro brasileiros que vivem no campo está em situação de extrema pobreza. No Nordeste, 48,5% dessa população são mulheres, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Historicamente, e principalmente no meio rural, as mulheres são as mais afetadas pela extrema pobreza. As dificuldades começam com a falta de documentos até a dificuldade de acesso às políticas públicas, como os créditos de financiamento agrícola.

O trabalho gera autonomia econômica para as mulheres e contribui para melhores condições de vida de suas famílias, comunidades e municípios, numa perspectiva de justiça socioambiental, promovendo os direitos humanos, a participação das mulheres e a convivência harmônica com o semiárido.

A partir de seus processos coletivos de organização nos grupos produtivos, as mulheres se fortalecem como sujeitos políticos em suas localidades e fora delas. Atuam em espaços de participação e implementação das políticas públicas, como conselhos, fóruns e comissões, colaborando para a melhoria das condições de vida de suas comunidades e municípios.

Mas enquanto as tarefas domésticas forem assumidas quase que exclusivamente pelas mulheres e filhas e não compartilhadas com seus companheiros e filhos, a sobrecarga das mulheres continuará e as desigualdades também. Para que as mulheres desenvolvam seu trabalho produtivo, o trabalho reprodutivo precisa ser dividido como todas as pessoas da casa. 

Apoio à produção das mulheres


Nos últimos anos, diversas políticas públicas foram construídas para fortalecer o trabalho das mulheres rurais, do campo e da floresta, com linhas específicas para apoiar projetos de grupos produtivos. No entanto, as mulheres rurais precisam também de apoio na produção e comercialização em suas cidades e regiões.

Para fortalecer sua autonomia, é importante também que gestores, empresários, comerciantes e outras autoridades de suas comunidades e municípios reconheçam que as mulheres produzem e colaboram para a melhoria das condições de vida de suas famílias, gerando renda também para suas comunidades e municípios da Região do Cariri paraibano.

Mulheres e autonomia

Há dez anos, a Cunhã Coletivo Feminista e o Centro da Mulher 8 de Março, em parceria com o Projeto Dom Helder Câmara, do Ministério do Desenvolvimento Agrário iniciaram sua atuação junto à realidade das trabalhadoras rurais da região do Cariri paraibano, visando contribuir para sua autonomia e para o enfrentamento às desigualdades de gênero na região. Apoiar a produção assim como divulgar como e o quanto essas mulheres produzem tem sido um desafio para todas as organizações envolvidas nesta ação.

Desde 2012, este trabalho conta ainda com a parceria da Concern Universal e co-financiamento da União Europeia, através do projeto Mulheres Rurais: autonomia e empoderamento no Cariri Paraibano. O projeto tem como objetivo geral contribuir para o enfrentamento à pobreza e a melhoria das condições de vida das mulheres rurais do Cariri Paraibano e suas ações serão realizadas no Cariri Ocidental. As ações são realizadas em oito municípios da região: Camalaú, Congo, Monteiro, Prata, Sumé, São João do Tigre, São Sebastião do Umbuzeiro e Soledade.